Religião
Cardeal Sarah responde ‘perguntas difíceis’, em novo livro
21 de jan de 2025 às 13:39
O prefeito emérito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos da Santa Sé, dom Robert cardeal Sarah, escreveu o livro de entrevistas Deus existe? O Grito do Homem que Pede a Salvação, no qual fala, entre outros temas, do mundo que se esqueceu de Deus.
No livro, publicado no fim do ano passado em italiano, o cardeal africano responde a várias perguntas feitas pelo jornalista David Cantagalli e diz que o texto “nasce da tentativa de responder às perguntas do editor (…) que, com autêntico zelo apostólico”, quis fazer “perguntas difíceis”.
O cardeal Sarah é um dos cardeais mais importantes da África e da Igreja universal. Ele é um forte defensor da beleza e reverência na liturgia, do direito à vida, à família e à liberdade religiosa. Ele tem 79 anos. Em 15 de junho, quando completar 80 anos, deixará de ser cardeal eleitor para um eventual conclave que eleja o sucessor do papa.
Em 2018, no Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, o cardeal disse que “diluir” a doutrina moral da Igreja sobre sexualidade não conseguirá atrair os jovens.
O cardeal Sarah foi prefeito da Congregação – hoje Dicastério – para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos de 2014 a 2021.
Sarah escreveu livros como Deus ou Nada: Uma Entrevista sobre a Fé; A força do silêncio: Contra a ditadura do ruído; Para a eternidade; A noite se aproxima e o dia já declinou; e Do profundo de nosso coração, escrito com o papa Bento XVI.
“Busquei as respostas na minha história pessoal e no meu coração, no Magistério da Igreja e no dos papas que marcaram minha vida e, não menos importante, no diálogo fecundo com amigos, sacerdotes e leigos, que vivem uma autêntica paixão por Cristo e pela Igreja, testemunhando no mundo Aquele que encontraram”, escreve o cardeal Sarah.
O cardeal disse ao jornal italiano Il Timone, em entrevista divulgada pelo site Religión en Libertad, que foi o homem e não Deus, que “morreu” no Ocidente.
“O Ocidente está passando por uma profunda crise identitária e antropológica, na qual o homem, em sua verdade e beleza, parece não ter mais consciência de sua dignidade e de sua vocação à felicidade, para a realização do próprio ser pessoal”.
Sarah diz então que “é óbvio que tudo isso tem raízes remotas, começando com a substituição do agostiniano amo ergo sum (eu amo, logo existo) pelo cartesiano cogito ergo sum (penso, logo existo), reduzindo assim a ontologia relacional à autoconsciência subjetiva, privando o homem daquela relação saudável com o real sobre a qual a ontologia se funda, o conhecimento do ser”.
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A crise da fé e do pertencimento à Igreja
O cardeal Sarah diz que há de fato uma crise de fé no mundo de hoje e que esta é agora “a mais profunda e crucial”.
Sobre os que entregam a vida a Deus, o cardeal diz que “não diria que as pessoas consagradas ‘não creem’ ”.
“Aliás, estou convencido de que, precisamente por causa das condições culturalmente desfavoráveis à radicalidade da virgindade para o Reino dos Céus, os que hoje respondem à vocação têm uma intenção inicial séria e radical”, diz Sarah.
“O ponto mais discutido é o da fidelidade, ao longo do tempo, à tarefa que Deus designou. Num contexto cultural cada vez mais hostil, com a fragmentação das relações, que não nos permite perceber o apoio e o calor de uma comunidade crente, é cada vez mais complexo viver a radicalidade do Evangelho. Creio que esse é o ponto crucial para todos os leigos e pessoas consagradas, para todos os batizados”, diz o cardeal.
Para o cardeal africano, “quem sai [da Igreja], sempre comete erros”.
“Erra porque abandona a Mãe; erra porque faz um ato de orgulho muito perigoso, colocando-se como juiz da Igreja. Às vezes, nem tudo é imediatamente compreensível, e algumas coisas podem parecer totalmente inoportunas, que não foram adequadamente ponderadas, mesmo pastoralmente infundadas ou prejudiciais. Apesar de tudo isso, isso não autoriza a sair”, diz Sarah.